quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Amor é fogo que arde sem se ver - Luís Vaz de Camões






Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


 Este poema é do poeta português Luís Vaz de Camões, o maior nome do Classicismo em Portugal. Ele foi um excelente sonetista, sendo que a maioria de sua obra lírica é composta por sonetos, versos decassílabos divididos em 2 quartetos e 2 tercetos, e redondilhas, estrofes com versos de cinco ou sete sílabas. Chamado na época de medida nova, o soneto opunha-se a medida velha que eram as tradicionais redondilhas. Os sonetos de Camões são tão atuais e verdadeiros em expressão de sentimentos que nem parecem ter sido escritos há quase quinhentos anos. Refletindo sobre o amor, ele produziu seus versos mais famosos. O amor nos deixa com inúmeros efeitos, perturbados, sem raciocínio. E perguntando-se "o que é o amor" Camões pode nos deixar este clássico.
Nas três primeiras estrofes, o eu-lírico descreve os efeitos causados pelo amor. Efeitos físicos, como se nossos próprios corpos fossem afetados por ele, e efeitos psicológicos, como se mechessem com nossos próprios desejos. Há ainda a exploração de diversas figuras de linguagem nestas estrofes, como a metáfora, a anáfora e o zeugma.
O último terceto nos revela que o eu-lírico não consegue entender como o amor, sendo em si tão contraditório, pode causar amizade nos corações humanos. Em Amor (com letra maiúscula) o poeta reflete sobre a essência do amor, universalizando a questão, como abstrata, pura e perfeita, acima de todas as expressões individuais.

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