quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Psicologia de um vencido - Augusto dos Anjos





Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

O poema "Psicologia de um Vencido" é um soneto (estruturado em 4 estofes, sendo 2 quartetos e 2 tercetos) do poeta Augusto dos Anjos. O poeta ocupa lugar à parte em nossa literatura devido a originalidade de sua obra que une características do Simbolismo com o cientificismo moralista.
Neste poema percebemos um vocabulário quase totalmente científico, com o uso de palavras como carbono, amoníaco, hipocondríaco, cardíaco, inorgânica, entre outros. Além disso há também agressividade no vocabulário pelo uso de termos até então considerados antipoéticos, como repugnância (nojo, aversão), verme (infame, desprezível) e carnificina (matança). Tais usos para tratar de temas frequentes como a morte, o nada, a decomposição da matéria e outros.
Já iniciando o poema, Augusto declara a supremacia da ciência para ele, ou seja, a não existência de um Deus. Segundo o mesmo, tudo fatalmente se arrasta para o mal e para o nada.

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