quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Carolina - Machado de Assis




Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.


Este poema foi dedicado por Machado de Assis ao seu único grande amor, a esposa Carolina Xavier de Novais, com quem viveu durante 35 anos (até a morte dela). Machado de Assis possuia inúmeras condições pro insucesso. Era mulato (neto de escravos alforriados), gago, sofria de epilepsia, era pobre (filho de uma lavadeira e um pintor de paredes) e durante a infância sofreu inúmeras perdas. Não frequentou a escola e sempre foi um autodidata. Acima de tudo, gozava de uma genialidade inexplicável. Foi jornalista, crítico literário, crítico teatral, teatrólogo, romancista, poeta, cronista e contista. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e que logo de ínicio foi aclamado presidente perpétuo.
Sua obra é dividida em 2 fases: a fase romântica (ou fase preparatória) e a fase realista (ou fase da maturidade). "Carolina" data da segunda fase da produção machadina onde fica evidente o amadurecimento estético do autor, principalmente na prosa. Percebemos ao ler o poema, alguém triste diante de uma perda. Carolina foi o único amor da vida dele e, a morte dela, fez com que ele descuidasse da sua própria saúde, sendo tomado por uma profunda angústia e um enorme desânimo.
No poema, ele diz ir até o leito onde a esposa descansava levar flores e que também irá sempre levar-lhe seu coração companheiro. Coração onde, apesar de todo o enfrentamento humano diante da perda, ainda pulsa um afeto verdadeiro. Carolina ainda inspirou o escritor a criar a personagem Dona Carmo, de Memorial de Aires.

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