terça-feira, 6 de novembro de 2012

Ismália - Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

 
Uma reação contra o materialismo e o positivismo da geração realista, fez surgir, no final do século XIX, um movimento onde se valorizava a vida espiritual. Rejeitando as soluções racionalistas, empíricas e mecânicas que foram apresentadas à sociedade pela ciência da época e buscando ideais desprezados pela mesma, nascia o Simbolismo, que no Brasil, se inicia com a publicação dos livros Missal e Broquéis, de Cruz e Souza.
Ismália é obra do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens, mineiro cujas poesias expressam uma atitude reflexiva e melancólica sobre praticamente um mesmo tema: a morte da mulher amada. O poema apresenta: interesse pela loucura, como vemos nos versos “Quando ismália enlouqueceu” e “E no desvario seu”; pelas zonas profundas da mente (inconsciente e subconsciente); misticismo e religiosidade, que pode ser percebido pela citação da crença na existência de Deus no verso “As asas que Deus lhe deu”; pessimismo, além de anti-materialismo e anti-racionalismo. Retoma elementos de tradição romântica, como a atração pela morte e elementos decadentes da tradição humana, aproximando-se da poesia ultrarromântica por voltar a explorar temas macabros e ambientes noturnos e misteriosos.
O poema é constituído com base em antíteses que se articulam em torno dos contraditórios desejos de Ismália, que se dividem entre realidade espiritual e realidade concreta. Ela queria subir ao céu, mas ao mesmo tempo queir a descer ao mar. Ela queria a lua do céu, porém também queria a lua do mar, dentre outras.
O simbolismo valoriza os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Essa característica pode ser comprovada pelo uso de expressões como alma, sonho, desvario e outras presentes no poema.
Ismália consegue realizar o desejo simbolista de transcendência espiritual, pois como vemos na última estrofe: “Sua alma subiu ao céu, seu corpo desceu ao mar”.
Concluindo, presenciamos uma mulher que, estando e uma torre, enlouquece pelo desejo que tinha pela lua. A lua que via no céu e também o reflexo da mesma no mar. Na torre ela cantava e nutria esse desejo inalcançável de ter ambas. Acreditando que poderia voar, ela se lança da torre em busca deste sonho.

2 comentários:

  1. Minhas amigas e eu fizemos um vídeo/análise de Ismália. Se puderem passem lá para dar uma olhada. Espero que gostem.
    http://www.youtube.com/user/studiofirefliesbr?feature=mhee

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